Monday, September 20, 2021

CARNAVAL

carnaval

Rogel Samuel




no seu calor
eu que rebolar
a minha dor

na sua voz
eu que entoar
o amor

não sinto tanto
o vazio do meu
pranto

leve retrato

o meu carnaval
é no seu prato

Sunday, July 18, 2021

POEMA PELO HAITI - ROGEL SAMUEL

POEMA PELO HAITI - ROGEL SAMUEL



ai! haiti

que inimigos tens, secretos

feitos de homens, feito de deuses?

monstruosidades calam em teu leito

mudas a cada grande dor teu enorme pleito

pela vida, pelas águas, pela multidão de

teus feitos

desde a colônia francesa de são domingos

desde a revolução francesa

desde teu líder Toussaint L'Ouverture

que derrotou a França e a Inglaterra

preso por Napoleão

desde Dessalines e os jacobinos negros

que prosseguiram o combate e a conquistaram,

em 1804,

a Independência cruel, sangrenta e definitiva,

que batizaram em sangue o País como o nativo Haiti

e onde meu amigo chinês mora ou morava

(não sei dele) e ensinava;

ai de ti, ó povo da Independência vitimado

que atrai da vitória a maldição

a maldição dos heróis

a maldição dos deuses

pelo que produziste

o café, o anil, o cacau, o algodão

e o açúcar melhor do que ninguém

e onde meio milhão de escravos africanos trabalharam

ó vítima da liberdade

que os deuses me protejam da tua maldição!

ó, haiti

Monday, July 12, 2021

POEMAS DE BOURNEMOUTH

 

POEMAS DE BOURNEMOUTH

e eu bebo veneno pelos olhos
quando vejo a tua forma de partir
que ela se torna numa larva preta
a espuma do mar fervente em cada mão
o desiderato rumo dessa casa feita
a linha errada em cada palma, o não
estarmos à roda desfibrada estreita
limita o mar que nos fareja o cão.
distúrbio funcional, minha malignidade
espectro desse quarto quando um morto
vagueava entre vivos a nos aterrorizar
humores, forma aquosa, vítrea,
e cristalina capa de estampadas letras.
eras superfície, punção, a gata morta
no leva e traz das ondas da maré
marco divisório de teus passos.

(Bournemouth, UK, 19 de agosto de 2007)

os dias se arrastam, lentos
as noite se sucedem, escuras
e frias
neste quarto de hotel.

muitas vezes pensei em sair
em ver o mar na noite fria,
mas me recolho cedo
encapsulado
em recordações

o mundo não está
nem lá fora
nem aqui dentro

o mundo não está



(Bournemouth, UK, 15 de agosto de 2007)

à medida que envelheço
vou ficando
como minha avó

à medida que envelheço
mais vou tendo
minha avó no espelho
(Bournemouth, UK, 14 de agosto de 2007)

todas as coisas se parecem contigo
[passo a ver-te em cada dobrada lua]
nada me afastará de ti, pois estás em todas as coisas
onde o olhar
onde há olhar
onde olhar

ver quero ver-te
mas só consigo ouvir-te
há uma canção que me embala
e me adormece

não te tenho perto
tão perto
nem durmo contigo

mas não faz falta
o amor se espraia para sempre

no ar

(Bournemouth, UK, 13 de agosto de 2007,
às 21:20).